Entidade bastante conhecida e cultuada nos cultos afro-brasileiros, representa o malandro, usa um terno branco com gravata vermelha e chapéu, e atua tanto na linha da direita quanto da esquerda, como praticamente todos os exus, e dizem que se originou na religião chamada Catimbó, no nordeste do Brasil. A estória mais difundida é a de que ele nasceu no interior de Pernambuco, num povoado chamado de Bodocó, foi para Recife com a família, mas todos morreram e ele se criou nas ruas.
Na juventude foi para o Rio de Janeiro onde ficou conhecido no mundo boêmio, habilidoso com a faca, dizem que ninguém tinha coragem de o encarar e ele foi morto pelas costas. O dia 28 de outubro é o dia consagrado ao seu Zé Pilintra. Como ele de malandro boêmio foi parar na religião não se sabe, mas esse é a lenda que envolve essa entidade. Mas entre a lenda e a realidade existe uma grande diferença, hoje me deparei com um Zé Pilintra e resolvi contar sua história, que é bem diferente da lenda.
O nosso Zé Pilintra era um feiticeiro africano que foi capturado e trazido para o Brasil como escravo e morreu trabalhando numa lavoura de cana-de-açúcar. Foi uma vida muito difícil como a de qualquer outro negro escravizado que trabalhava na lavoura e ele morreu jurando a si mesmo que iria se libertar, que faria tudo o que fosse preciso, destruiria quem quer que fosse preciso para conseguir isso. Ficou um bom tempo no astral mas acabou sendo puxado para reencarnação e novamente nasceu como escravo, dessa vez na Casa Grande, mas desde pequeno, por volta dos cinco anos de idade, fugia e ia para a senzala assistir as cerimônias de magia.
Aprendeu o que já sabia e desde cedo começou a fazer magia para o dono da fazenda, era bom no que fazia, determinado, se era feitiço de morte e o patrão tinha pressa ele mesmo matava o alvo da magia. Não demorou para ele ter sua casinha separada dos outros negros e ter um tratamento especial, que culminou com sua alforria, ganhou até a casa em que vivia para morar, e tinha apenas vinte e poucos anos, não sabe a idade certa porque nem sabia quando tinha nascido. Em sua última vida aqui na Terra foi um legítimo preto-velho, e conversando com ele perguntei porque depois de morto escolheu essa identidade, Zé Pilintra, e ele disse que foi gostou da vestimenta, terno branco e chapéu, e também porque que não precisa causar medo com um nome ou aparência, pois ele sabe trabalhar bem.
Encontramos esse Zé Pilintra no atendimento de uma mulher em que fizeram um trabalho de magia para que ela morresse e outro para que se separasse do marido. A vida da mulher está um caos, até porque ela já foi do Candomblé e recentemente entrou e saiu da Umbanda. O Pilintra estava com ela devido ao trabalho de morte, em que pagaram um bode para que a mulher morresse. Quando fizeram o outro trabalho, que foi outra pessoa em outra cidade, as entidades desse segundo trabalho apenas deram parte da energia para ele fazer o serviço.
Ele que já estava induzindo a mulher a se ferrar e transformando a vida dela num inferno, por conta do trabalho de morte, para fazer ela se separar do marido criou uma energia de asco no marido em relação a ela, e para ajudar colocou um pênis que retirou de um cadáver no cemitério dentro da vagina dela, imaginem o problema. Não temos como taxar de mau um espírito que foi trazido da África como escravo, que sofreu todo tipo de privações e humilhações, mas também não podemos permitir que se perpetue esse comércio desenfreado de magia negra, por isso desmanchamos os dois trabalhos de magia contra a mulher e o seu Zé teve uma crise aguda de amnésia, não se lembra mais nem quem é, e foi encaminhado para reencarnação. No fundo ao sustar o trabalho dessas entidades estamos evitando que contraiam um karma maior para si.
E como não existem coincidências, nessa última vida em que ele fazia muita magia e comprou sua alforria ele foi muito perseguido por uma mulher religiosa, uma carola, que tentou de várias formas acabar com ele, que era muito conhecido na cidade, pois ela sabia que ele fazia feitiços e isso não era coisa de Deus, mas ela não teve sucesso. Essa carola na vida atual é a mulher que atendemos.
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