Orun é uma palavra da língua iorubá que designa o mundo espiritual, o céu, em oposição à Terra, o mundo físico, que é Àiyê. Na mitologia iorubá tudo que existe no Orun coexiste no Àiyê, como se um fosse o espelho do outro, o que tem no mundo espiritual tem no mundo físico, tudo teria uma dupla existência simultânea no mundo físico e no mundo espiritual. Embora no Candomblé não exista o conceito de céu e inferno como nas religiões cristãs, eles acreditam que o Orun, o mundo espiritual possui nove níveis.
Esses nove níveis são:
Orun Rerê para onde vão os que foram bons durante a vida;
Orun Alàáfiá para onde vão as pessoas boas de índole pacífic, lugar de paz e tranquilidade;
Orun Funfum para onde vão os inocentes e de sentimentos e intenções puras;
Orun Babá Eni para onde vão os sacerdotes e sacerdotisas, babalorixás, ialorixás, ogãs, ekedis etc.
Orun Afefé para onde vãoos espíritos que ainda precisão se corrigir, os que precisam reencarnar no Àiyé;
Orun Àsàlú um local de triagem para onde os eguns, os espíritos dos mortos, vão para serem julgados por Olorun, Deus, que vai decidir para qual Orun cada egun irá;
Orun Apadi para onde vão os espíritos condenados;
Orun Burucu para onde vão as pessoas más, citado como sendo quente como pimenta; e por fim
Orun Marè onde vivem os espíritos perfeitos, Olorun e todos os orixás.
Me parece fácil bem evidente que esses oruns representam níveis do plano espiritual, o Orun Afefê seria o nosso famoso umbral, os Oruns Rerê, Alàáfiá, Funfum, Babá Eni e Marè seriam mundos superiores e os Oruns Àsàlú, Apadi e Burucu seriam níveis mais baixos do umbral.
Temos uma cliente que fez a iniciação no Candomblé há 45 anos, a feitura de cabeça, fez as obrigações de três e sete anos e recebeu o deká, um cargo que lhe permite abrir um terreiro se quiser. A questão é que ela se afastou há muitos anos da religião e não queria mais a ligação com as entidades do Candomblé. Em sua iniciação foram imantados a ela três entidades, sendo uma delas a dona do ori, a cabeça da consulente, uma entidade feminina chamada de Kokueto, metade mulher metade peixe, que seria equivalente a Iemanjá. As outras duas entidades foram Mutakalambo, equivalente a Oxóssi, e Dandalunda, equivalente a Oxum.
Nós havíamos atendido ela em outra ocasião e lhe reportamos que os três espíritos que foram assentados nela na iniciação ainda estavam com ela, motivo pelo qual ela nos solicitou a desconexão com essas entidades. A nossa cliente acreditava que esses espíritos eram as divindades mencionadas, orixás do Candomblé, mas como já explicamos inclusive na postagem Feitura de santo, são espíritos como nós pois não existem as divindades que chamam de orixás, existem espíritos que trabalham com as energias atribuídas aos orixás ou que se dizem pertencentes a falange de algum orixá.
Nossa cliente fez a feitura de santo com uma mãe-de-santo, depois saiu do terreiro dela e fez obrigação de três anos em outro terreiro com outra mãe-de-santo e a obrigação dos sete anos para receber o grau final, o deká, com um pai-de-santo. Essas três pessoas já faleceram. A mãe-de-santo com quem ela fez a obrigação dos três anos disse a ele que houve um erro e que seu santo de cabeça não era Kokueto e sim Dandalunda, e supostamente teria corrigido isso; posteriormente na obrigação de sete anos ela relatou isso ao pai-de-santo e ele teria terminado de corrigir isso, dando a cabeça da consulente para Dandalunda.
Essas obrigações envolviam oferendas de galinhas, cabras, pombas, peixes, frutas, mel, cachaça etc . A mística envolvida é muito bonita, tem toda uma história envolvendo cada orixá, mas na realidade as três entidades não eram orixás. Um detalhe interessante é que a Kokueto que foi imantada na consulente na iniciação é uma mulher trans e quando conversei com ela me disse que a mãe-de-santo que fez a obrigação dos três anos com a consulente não a viu como Kokueto, provavelmente por ela ser uma mulher trans imaginou que fosse uma pomba-gira, por isso disse que a entidade verdadeira da nossa cliente era a Dandalunda.
Numa vida passada na África há cerca de 2.000 anos esses três espíritos eram de uma família muito importante, tinham muitos escravos, e nossa cliente foi uma escrava deles, por isso agora eles achavam que ela tinha que continuar a servi-los. Eles não gostavam dela não cumprir as obrigações como preconizado, ou seja, fazer oferendas regulares a eles, mas estavam imantados a ela e mesmo sem as oferendas se alimentavam da energia dela. Nós desfizemos as ligações energéticas entre os três espíritos e a nossa cliente e encaminhamos os três espíritos para reencarnação.
Para finalizar a desconexão fomos atrás das duas mães e do pai-de-santo com quem ela fez a iniciação e as obrigações, mesmo essas três pessoas estando mortas a conexão entre elas e as pessoas em que botaram a mão permanece. A mãe-de-santo da feitura, a que fez a cabeça da nossa cliente no santo e imantou as três entidades depois de alguns anos dessa feitura fechou o terreiro e encerrou suas atividades e ela foi punida por isso após a morte, foi considerada uma pessoa má por não ter passado o terreiro para um sucessor e estava vagando no Orun Burucu, uma região umbralina desértica onde só tinha areia, ela se via vagando sozinha nesse lugar, eventualmente afundava até o peito numa areia movediça e quando conseguia sair voltava vagar nesse deserto sem fim. Apesar dela não enxergar ninguém por perto havia mais uns 5.000 espíritos na mesma condição que ela, foram todos resgatados e encaminhados para reencarnação. A conexão energética dela com a nossa cliente foi cortada.
Com a mãe-de-santo com quem nossa cliente fez a obrigação de três anos ela costuma sonhar eventualmente, inclusive sonhou depois de nos ter solicitado a desconexão, e essa estava no Orun Babá Eni, para onde vão os pais e mães-de-santo do Candomblé, o céu dos pais e mães-de-santo, ou pelo menos uma versão desse lugar. Apesar de pela descrição fazer parte de um local melhorado do astral, tipo um umbral classe média alta, ele estava no baixo umbral.
No local havia 15 galpões grandes cada um abrigando um terreiro comandado por um babalorixá ou ialorixá, um pai ou mãe-de-santo, sendo que desses 15 terreiros, cinco eram os tops do local, os maiorais, e havia outros sete galpões onde os pais ou mães-de-santo menos expressivos mantinham seus terreiros, dividindo o espaço do galpão. Cada um desses sete galpões coletivos poderia receber até sete pais ou mães-de-santo. A mãe-de-santo em questão, a que fez a obrigação de três anos de nossa cliente estava num desses galpões coletivos, mas era ambiciosa e queria subir de posto, quer ter um terreiro individual, um galpão só dela, por isso vampiriza todos que conheceu em vida na religião para lhes sugar energia e os angariar para o terreiro dela depois de mortos.
Esse Orun Babá Eni era habitado por cerca de 5.000 espíritos desencarnados, mas era frequentado por outros 5.000 espíritos de pessoas encarnadas em desdobramento. Esses espíritos trabalhavam com terreiros aqui do físico que faziam todo tipo de feitiço, inclusive magia negra, por isso foram obliviados e encaminhados para reencarnação, os terreiros desse Orun foram todos destruídos.
Já o pai-de-santo com quem nossa cliente fez a terceira obrigação não fez nada por ela, usou a energia das oferendas para ele próprio, estava interessado era no dinheiro que iria receber, e agora depois de morto estava no Orun Funfum, o umbral genérico, e estava vampirizando todos que conheceu em vida, foi obliviado e encaminhado para reencarnação.
Alguém poderia perguntar o motivo da pessoa querer desfazer a cabeça do santo. Bom, como na realidade não nenhuma divindade que é assentada na cabeça da pessoa, ela tem um ou no caso três espíritos lhe sugando o tempo todo e no caso dela só a sugavam mesmo pois a viam como uma escrava e mesmo que ela fizesse as obrigações regulares nada fariam. Às vezes acontece de assentarem como santo de cabeça um obsessor da pessoa, pois eles não sabem distinguir quando um espírito fala a verdade ou mente, se um espírito se manifesta e diz que é o santo da pessoa, ou induz o pai ou mãe-de-santo a ver nos búzios que ele é o santo da pessoa eles aceitam. Então quando não estão sugando a pessoa estão tramando para ela sofrer.
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